Tuesday, April 24, 2007

Feira do Rock

Os funkeiros, os coveiros, os sambistas, os pagodeiros têm vários pontos de encontro espalhados por esta eclética cidade. Os roqueiros de bom gosto nem sempre tiveram a mesma sorte. Os pontos eram isolados ou em locais obscuros. No entanto, os nossos problemas acabaram!

Agora existe um "point" só pra os adoradores de rock progressivo, hard rock, krautrock, fusion, psicodélico, heavy, jazz-rock, folk, gothic metal e afins. É o Clube português da Vila da Feira, que fica na r. Haddock Lobo, 195. A entrada é gratuita. É só procurar pelo Clovis, o organizador dos eventos.

Todas as sextas-feiras rola o encontro dessa diversificada e ecumênica comunidade roqueira pra assistir videos raros (Yes, Banco, Marillion, IQ, Genesis, Tangerine Dream, Gentle Giant, Camel, Kansas, Pink Floyd, Jethro Tull, ELP, Deep Purple, Led Zeppelin etc.) trocar ou vender coisas (CDs, DVDs, camisetas etc.)ou, simplesmente, colocar o papo em dia. O bar do Clube colabora com a cerveja gelada, bolinho de bacalhau ou linguiça acebolada, e muita hospitalidade. Há espaço para a realização de shows e ensaios; bom lugar para o lançamento de novas bandas e retorno de antigas.
Foi lá que soube que a Eldopop on-line deve retornar em breve sob nova direção. E foi lá também onde conheci o guitarrista do Focus, Jan Dumme que aparece na foto abaixo ao lado do "baixinho" Vitor.

Friday, April 13, 2007

Dia de Festa







Tuesday, April 03, 2007

Crônicas do Rio Antigo



Um passeio pelas ruas do centro do Rio de Janeiro nos oferece condições para a realização de uma interessante experiência: uma viagem no tempo, uma retrospectiva em mais de quatrocentos anos de história da cidade. Uma busca pessoal pelo Rio Antigo.
Bem, cabe ressaltar aqui, antes de qualquer coisa, que o conceito de Rio Antigo é puramente emocional, pois se refere, grosso modo, a qualquer período anterior ao atual. E para mim, a coisa começa com o que vivi na infância e na adolescência.
Mesmo sabendo que vários palácios, igrejas e sobrados foram demolidos e que muitos patrimônios públicos foram deixados ao sabor da ação erosiva do tempo, há ainda uma expectativa muito grande em torno de lugares e aspectos que mantêm impressões digitais de outras épocas. Saber quem morou, quem construiu (e seus objetivos) ou o que foi feito de importante num determinado lugar nos permite reconstituir pedaços de uma imensa colcha de retalhos que nos remete à vida social pretérita. É através do que foi deixado que mantemos a história viva.
Para quem gosta da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, investigar o passado é algo que proporciona um prazer estético indescritível. Desperta um desejo incrível de descrever e explicar com clareza o que aconteceu. E isso nos dá subsídios para uma contemplação mais lúcida e racional daquilo que está exposto. E nesse sentido, há muita coisa boa para apreciar: desde estilos arquitetônicos (do colonial ao moderno), estátuas, ladrilhos, lampadários, chafarizes, e até a pavimentação nas ruas.
É bem verdade que quem mora no Rio é um privilegiado. Respiramos história por todos os cantos. Do estreito e obscuro Beco dos Barbeiros, na Praça XV, ao portentoso adro da Igreja de Santo Antônio, no Largo da Carioca, dá para viajar no tempo e sentir os ares românticos do passado.

Por que o centro da cidade do Rio de Janeiro?

Nasci e cresci ali. Desde os meus tempos de criança tinha o costume de perambular a esmo pelas ruas da cidade em busca de cinemas obscuros, brechós, estátuas antigas, livros raros e usados, lojas de discos, igrejas seculares ou, simplesmente, áreas de lazer para jogar futebol ou colecionar insetos. Juntava o sagrado com o profano, sem problemas.
Ficava constrangido e, muitas vezes magoado, quando alguém perguntava se morava viva alma no centro da cidade. Muitas pessoas acreditavam (e muitas ainda acreditam)que lá só tinha vida nos dias úteis, com a circulação dos laboriosos pedestres, restando mendigos, “travecas”, bêbados, prostitutas e marginais como habitantes permanentes da "fauna" local. Pensava comigo: uns moram na zona norte; outros, na zona sul. Então, Meu Deus! eu não moro nem em uma, nem em outra; moro na zona! Ninguém chamava aquilo de zona central ou coisa parecida. Mas, o Bairro de Fátima e as áreas adjacentes eram o meu testemunho da existência da residência fixa de “pessoas normais” naquela região. Para meu conforto, fiquei sabendo que lá moraram, no século XX, pessoas famosas como Sílvio Santos (estudou no Colégio Celestino da Silva! vendia perfume na Praça Tiradentes), Ismael Silva, Wilson Grey, Eduardo Dusek, Francisco Alves, o cartunista Jaguar, carnavalesco Evandro de Castro Lima, entre outros.
Bem, eu, andarilho incorrigível, tento passar a seguir algumas impressões de lugares que considero interessantes no centro da cidade. Procuro também salientar diferentes aspectos históricos, culturais e arquitetônicos. Faço, sempre que possível, comentários sobre livrarias, sebos, cafés, bares, centros culturais, museus, ruas e ruelas, ladeiras e avenidas, casas e arranha-céus. Conto coisas que aconteceram comigo, com conhecidos, ou até mesmo com desconhecidos. Posso exagerar um pouco, mas inventar, nunca.
Em passado recente, o centro da cidade sofreu um grande renascimento cultural, celebrando os momentos áureos da Belle Epoque no final do século XIX e início do século XX. Isto pode ser comprovado com a grande quantidade de casas noturnas e estabelecimentos edificados sobre antigos sobrados e casas comerciais, atendendo a diferentes gostos e tribos urbanas.

Lapa e adjacências

A Lapa é um daqueles lugares mágicos do Rio. Quem nunca perambulou pela Lapa não é um verdadeiro carioca. Falta o batismo. Está aqui por acaso. A Lapa é o berço da boemia carioca. É aonde se esconde a alma do Rio.
Na década de 1980, havia na Lapa o Circo Voador como chamariz. Este foi logo fechado, sabe-se lá o porquê. Já a Fundição Progresso, que fica ao lado, tem se mantido ativa. Trata-se de uma construção bem antiga. Ela foi fundada em 1881 e corresponde a um exemplo de arquitetura industrial de sua época. Portões, grades, postes e sacadas foram construídos pela antiga Fábrica Almeida Comércio e Indústria de Ferro.
O lugar passou aos poucos a ser um centro cultural freqüentado por numeroso e fiel público alternativo. Era uma galera que se assemelhava aos hippies dos anos sessenta. Entidades perdidas no tempo. Tinham um interessante sorriso subversivo. A maneira de se vestir e o gosto musical eclético eram similares aos do pessoal que mora ou perambula pelas ruas de Santa Tereza ou de Botafogo.
Na Fundição Progresso se realizava o famoso Mercado Mundo Mix, desde a década de 1990 (agora parece estar restrito ao Jóquei Clube, na Gávea). Lá rolava de tudo em termos de moda, artesanato e música (techno, metal, forró, samba etc.). O lugar era uma verdadeira Torre de Babel. Para entrar, bastava trazer um quilo de mantimentos.
Recentemente, o Circo Voador, do Perfeito Fortuna, voltou bem modificado e com força total. Uma benção dos céus. Fiquei feliz porque também freqüentei aquele lugar nos bons tempos. A extinta Fluminense FM cantava lá de Niteroi a pedra e lá estava eu comprando ingresso, dependendo do show, é claro. Assisti shows fantásticos no Circo: Bacamarte, Hermeto Pascoal, Lô Borges, Beto Guedes etc.
De um tempo pra cá, os Arcos da Lapa (data de 1750, governo de Gomes Freire de Andrade), com a Fundição Progresso e o Circo Voador em destaque, escoltados por um monte de bares, casas noturnas e restaurantes, têm recebido muita gente, não só no Carnaval, mas também nos embalos e preparativos do final de semana.

No final da década de noventa, o “Carioca da Gema”, na Avenida Mém de Sá, e o “Manuel e Joaquim”, na Praça João Pessoa, deram novo colorido ao lugar e indiretamente revitalizaram os antigos “Nova Capela”, Pizzaria “Arco-íris” e Bar “Brasil”. Bem, eu fui na inauguração do Restaurante “Manuel e Joaquim” da Praça João Pessoa. E fui parar lá por acaso. Passeando pelo local, ouvi uma barulheira que me chamou a atenção. Estava rolando uma apresentação do saudoso Oswaldo Sargentelli com “suas mulatas que não estão no mapa”. Houve distribuição gratuita de chope e presunto tipo Parma para todo felizardo que estava por lá. Foi demais.

Fiquei boquiaberto com as mudanças que ocorreram no tradicional restaurante “Nova Capela da Lapa”. É bem verdade que o “Capela” original foi fundado em 1923, no coração da Lapa. Foi demolido em 1969. Neste mesmo ano, os donos criaram o atual, situado na avenida Mém de Sá. Passou a ser então o abrigo natural dos órfãos do velho “Capela”, ou seja, intelectuais de esquerda, comerciantes, jornalistas, artistas e boêmios de todos os tipos. Foi no “Nova Capela” que surgiu a maneira de servir “à francesa”. Tudo por causa de um freqüentador francês que sempre pedia petit-pois, batata palha, presunto e cebola para acompanhar um filé de frango (argh!). A galera freqüentadora resolveu imitá-lo. Resultado: o prato ficou imortalizado na cozinha carioca.
Depois o “Capela” entrou num período de decadência devido a perda de poder aquisitivo da população local e da queda de qualidade da própria Lapa, que, aos poucos, foi sendo trocada por novos points na zona sul nas décadas de sessenta e setenta. Mesmo assim o “Nova Capela” manteve a qualidade gastronômica (vide o famoso cabrito assado com arroz e brócolis e a lula com arroz e brócolis de lá).
Ao lado do restaurante “Nova Capela” havia uma boate, no mais alto estilo daquelas do buraco quente de Copacabana, de shows eróticos, chamada “Novo México”. Havia bons shows de strip-tease por lá, acompanhados de música dançante dos anos setenta. Os shows eram bem melhores que os realizados nas boates “Carrossel” e “Vikings”, rivais e localizadas mais adiante na avenida Mém de Sá. As meninas dançarinas de lá vinham, quando devidamente forradas com din-din, pro “Capela” para recuperar as energias e fazer novas amizades e bons contatos. Algumas davam até uma canja. De acordo com a memória popular local, uma delas, que atendia pelo nome de Celinha Mengão, logo após saber que o seu time de coração (dá pra saber pelo apelido) ganhara um clássico no Maracanã, subia na mesa do restaurante e fazia um strip completo para o delírio da galera masculina presente.
O restaurante contava com um curioso serviço extra para atendimento aos clientes que passavam dos limites em termos etílicos. Para este fim, o taxista Jojoca, um negão de grande porte, muito atencioso e gentil, estava sempre presente para garantir a chegada sã e salva do cliente no aconchego do seu lar.
No ”Capela” havia uma equipe muito interessante de garçons, com destaque para o quase secular Adão, que era capaz de errar ou esquecer os pedidos sem perder a pose. Ele vinha todos os dias trabalhar montado na sua tradicional bicicleta preta.
Com o renascimento da Lapa, o“Nova Capela” soube se adequar a um novo tipo de clientela. A coisa ficou tão boa que abriu uma casa do lado com nome similar: “A Capela”. De frente pro “Nova Capela” ficava o “Carlitos”, que não agüentou o tranco da mudança local e fechou. No seu lugar abriu um excelente bar que vive lotado. Os travestis que fazem ponto naquela área aos poucos estão se deslocando definitivamente para a Glória, por não se ajustarem mais à paisagem.

Novos restaurantes e bares de qualidade apareceram na região. O último point, levantado em 2007, o “Antonio’s”, localiza-se na esquina da avenida Mém de Sá com a rua do Lavradio, onde havia uma loja de peças para automóveis. O lugar tem dois andares. O chope é bem tirado, gelado e sem muito colarinho. O “Antonio’s” promete vingar por ali e acompanhar o sucesso dos famosos “Bar Brasil”, “Belmonte” e da “Garota do Senado”, na rua do Lavradio; “Bar Luiz” (ainda o melhor chope preto da cidada), na rua da Carioca e do charmoso e recatado “Salsa e Cebolinha”, na Gomes Freire, de frente pra TVE. Este último, que tem a assinatura do Ziraldo, é uma ótima pedida para quem gosta de sossego e música de qualidade. Rola por lá chorinho, MPB, jazz e até mesmo blues. Curioso: pouco se fala desse lugar. Acho que é de propósito, para manter uma clientela mais seleta.
Na avenida Gomes Freire também vale a pena dar um pulo no bar, restaurante e antiquário “Memórias do Rio” que conta com bons shows de samba tradicional.

O “Bar Brasil” merece destaque. Ele tem um pé na avenida Mém de Sá e outro na rua do Lavradio. Foi fundado em 1907 pelos imigrantes germânicos Franz Mayr e Feliz Schüller. Chegou a se chamar Bar Berlim. Mas, por motivos óbvios teve que mudar de nome durante a segunda grande guerra mundial.
A especialidade sempre foi cozinha alemã, mas com notável influência carioca. O bar conta com uma velha torre de bronze e uma serpentina especial que produz um dos melhores chopes claros do Rio de Janeiro.
Por falar em chope, no Rio Antigo o principal local de venda da santa bebida localizava-se na rua do Ouvidor, mais precisamente no extinto Cailteau, que a vendia, desde 1883, a partir da cerveja alemã Culmbacher, guardada em tonéis. Desde aquela época a cerveja era popular. O “Bar Brasil” deu continuidade a esta tradição e o chope é da Brahma!
Por várias vezes comemorei meu aniversário no “Bar Brasil”. Era o meu bar Esperança (vide filme de Hugo Carvana pra entender). Os três garçons são verdadeiros patrimônios da cidade: Ézio, Adauto e Chico. Cansei de pedir pra eles pra vir o chope sem colarinho! O lugar era (e ainda é) freqüentado por muita gente boa da velha guarda: Ziraldo, Martinho da Vila, Jaguar, e o saudoso Albino Pinheiro (fundador da Banda de Ipanema e bom de chope), entre tantos outros.

Para quem chega na Lapa vindo da zona sul, passa pela Igreja de N.S. do Carmo da Lapa do Desterro (de 1751) e pelo lampadário Monumental do Largo da Lapa (de Rodolpho Bernardelli), e logo se depara, do lado esquerdo, em oposição à Escola de Música da UFRJ, com o restaurante “A Cosmopolita” (especializado em comida espanhola; onde nasceu o filé a Oswaldo Aranha) e a “Pizzaria Guanabara” (antigo “Chopp da Lapa”). Mais adiante está a badalada casa de espetáculos “Asa Branca”, com seu animado forró. Bom cartão de visita. Segue na mesma calçada uma seqüência eclética e, ao mesmo tempo ecumênica, de lugares para beber, ouvir música e dançar. Dobrando a esquina, há o ótimo “Semente”, concorrido local para cerveja gelada, música ao vivo e muita azaração. A maioria do pessoal que lá chega, fica do lado de fora (pela falta de espaço físico!), com latinha ou garrafa de cerveja na mão. Sem problemas. Vale a pena até sentar no meio-fio.
Na rua onde morou o músico Jacó do Bandolim, a Joaquim Silva, há também um aglomerado de botecos pé-sujo para aqueles cervejeiros financeiramente desafortunados. Na mesma rua existe a boa escola de música de Vitor Assis Brasil.

Pra quem está com dinheiro no bolso e quer fazer um agrado para alguma entidade portadora de saia, na rua Teotônio Regadas, ao lado da Sala Cecília Meireles, localiza-se a graciosa “Adega Flor de Coimbra”, a mais antiga da cidade (1938) e ainda em atividade. O lugar é pequeno e, em boa parte, cercado de barris de madeira. A decoração é portuguesa, com azulejos monocromáticos típicos, mas acompanhados de uma série de imagens do Rio Antigo. Lá, vale a pena experimentar a famosa jurupinga, um aperitivo feito de cachaça com vinho do Porto, e comer o bolinho de bacalhau em forma de charuto. O vinho da casa, o Pérola Gaúcha, também é muito bom. A TV Globo costuma gravar tomadas externas para as suas novelas, nas proximidades, mais precisamente num hotel que fica ao lado da ladeira super decorada com ladrilhos que começa na Joaquim Silva e termina em Santa Tereza, no famoso convento. Descendo a rua e virando a direita, já no largo da Lapa, vê-se o excelente Restaurante “Ernesto” que se transforma em ótimo lugar de dança nos preparativos (quinta e sexta feiras) do final de semana. A tábua de frios de lá é excelente.

Na Mém de Sá, logo depois da praça João Pessoa, encontra-se a "Casa da Cachaça", do seu Oswaldo. O lugar é desaconselhável para quem sofre de claustrofobia e de frescura perniciosa. É muito pequeno e desconfortável. O microambiente é todo ele decorado com cachaças de vários cantos do Brasil. Algumas valem uma nota. É coisa pra pinguço requintado e que gosta de beber em pé. Nas proximidades há bares com sinuca para a galera que gosta de algo entre o punk e o gótico.

Seguindo a avenida Mém de Sá em direção ao Estácio, próximo da Praça Cruz Vermelha, localiza-se o “Nova República da Lapa”, fundado na década de 1980. Eu estive na inauguração e passei a ser um assíduo freqüentador nos finais de semana. Lembro-me que no dia da inauguração, uma Periplaneta americana, de dimensões consideráveis, caminhava tranqüilamente pelo teto daquele lugar. Em baixo, na alça de mira do terrível artrópode, estava uma animada família de descendentes de portugueses reunida pela hora da ceia. De repente, o artrópode despencou do teto e atingiu a mesa em cheio. Foi pânico geral. Tinha gente correndo para todos os lados até que um serviçal do restaurante pôs fim a vida do pobre animal com umas boas vassouradas. Morri de rir.
Os garçons de lá, salvo algumas exceções, eram bons e grandes companheiros (alguns permanecem até hoje, como é o caso do excelente Ademar). Alguns emprestavam dinheiro para os fregueses desprevenidos sob o compromisso de devolução integral e de serem atendidos exclusivamente por eles na próxima visita. Pareciam filantrópicas cafetinas.
O lugar inicialmente era muito informal, folclórico e inusitado. Era um reduto para o desamparado boêmio do Bairro de Fátima e proximidades, carente de boas opções. Era também um ótimo local de azaração (valia usar até “torpedos”e coisas do gênero) e só fechava quando o último freguês ia embora. Tinha ambiente aberto, sem ar condicionado, meio tosco, mas sempre havia fila imensa na porta nos finais de semana. Só faltava distribuir senha. Muita gente famosa e da velha guarda aparecia por lá (e.g., Costinha, Jamelão). O lugar passou por várias administrações não muito bem sucedidas até que se transformou numa convencional churrascaria e pizzaria rodízio, sem o encanto e a magia dos velhos tempos.

De frente para o “Nova”, como era chamado pelos pinguços freqüentadores, localiza-se o sinistro “Bar das Quengas”, quartel general do famoso Bloco das Quengas que sai na terça-feira de carnaval e que reúne todo tipo de gente (muitas vezes não dá pra saber ao certo qual o sexo de quem está do lado). A bambilândia local já começa a se agitar desde cedo, por volta das onze horas e o bloco sai quase na hora da “Banda de Ipanema”, por volta das 16 horas. O ar fica sobremaneira fresco, mas o bloco é acompanhado por representantes decentes das famílias do bairro, inclusive muitas mulheres e crianças, sem qualquer tipo de discriminação para com os x-men.
Já, o novo point desta curiosa área próxima da Praça Cruz vermelha parece ser o “Bom de Papo”, na esquina da rua Ubaldino do Amaral com a avenida Mém de Sá. Pelo menos, mostra ambiente mais acolhedor que o super pé-sujo vizinho, um 24 Horas, que fica do outro lado da avenida. Por vezes já parei naquele famigerado lugar, arrastado por grandes companheiros que manifestam um apego inexplicável por ele. Até a repórter Ana Davis já foi vista por estas bandas se afogando na loura gelada. Triste fim para quem não conseguiu nada de bom naquela noite.
No Bairro de Fátima propriamente dito, pouca coisa restou do pouco que se tinha por lá. Há dois bares muito decadentes na praça central. É pra pinguço financeiramente muito debilitado. A vantagem é que a cerveja é muito barata, mas a comida, por outro lado, é terrível.
É de se registrar que, no Bairro de Fátima, lamentavelmente, acabou a Pizzaria chamada “Gruta de Fátima”. Era a mais antiga pizzaria em atividade no Rio até a década de 1990. Cansei de matar a minha fome por lá. O local clama por dias melhores.

Rua do Lavradio

A rua do Lavradio sofreu uma mudança fantástica e pra melhor, desde os tempos de Luis Paulo Conde (quando era secretário do Prefeito César Maia). Não custa nada comentar um pouco sobre a sua história. Tudo começou com o Marquês do Lavradio, um vice-rei que muito contribuiu para a remodelação da paisagem urbana da cidade do Rio de Janeiro, e que abriu um imenso caminho ligando o Caminho da Bica (nos Arcos) ao Largo do Rossio Grande (atual praça Tiradentes). O local era um alagado, os pantanais de Pedro Dias, e melhorou consideravelmente depois da obra. Este caminho foi mais tarde batizado como Rua do Lavradio. Foi aberta em 1771 e passou a ser uma das principais ruas residenciais daqueles tempos. Teve muita tradição na vida social, política e cultural da cidade. Nela, em 1829, D. Pedro I quase perdeu a vida ao cair de uma carruagem. Nela conspiraram republicanos. Nela moraram João Caetano, Conde de Caxias, André Rebouças e Vieira Souto.
Destaca-se na rua do Lavradio (n.97), o atual Palácio Maçônico, um casarão do Grande Oriente do Brasil, inicialmente construído para ser um teatro, sob a iniciativa de artistas da companhia Mariana Torres, em 1813. Mas, o projeto não foi levado adiante. Foi abrigar a loja maçônica Glória do Lavradio que logo foi substituída pelo Grande Oriente, já em 1832. Os primeiros Grão-Mestres foram José Bonifácio de Andrada e Silva e D. Pedro I ainda no tempo em que o templo não estava construído. A ocupação definitiva deu-se em 1842.
Também na rua do Lavradio tiveram curta e desafortunada existência, dois outros teatros. Um, o popular Politeama Fluminense, que pegou fogo em 14 de julho de 1894, e o Apolo, que recebeu a famosa atriz Sarah Bernhardt, no final do século XIX. Este último permanece atualmente como Escola Municipal Celestino da Silva. Celestino foi o último empresário do Teatro Apolo. Conta-se que ele se desentendeu com suas artistas que rogaram pela sua morte. Como resultado, lavrou escritura no dia seguinte doando para a Prefeitura o teatro e com o compromisso de que o transformassem numa escola primária, com o seu nome. Pronto e feito.
A residência do Marquês do Lavradio corresponde atualmente ao casarão da Sociedade Brasileira de Belas Artes. Está situada no número 84 da rua.
Em passado recente, houve muito investimento público na rua do Lavradio, com importantes reformas realizadas pela prefeitura. A iluminação foi melhorada, bem como o serviço de água e esgoto. Isto possibilitou a revitalização da feira de antiguidades da Rua do Lavradio e apoio para vários eventos culturais locais, bem como reformas estruturais nos antiquários locais.
A feira, no início, era esporádica e desorganizada. Vendia-se qualquer coisa. Era mais uma feira de quinquilharias e bugigangas do que de antiguidades ou artesanato de qualidade. Hoje a feira é um sucesso. É grande e se expande rapidamente por ruas adjacentes, e apresenta bons produtos, fazendo até concorrência com a famosa Feira de Ipanema (na Praça Gal. Osório). Leva ainda vantagem sobre esta por ter muitos eventos musicais. Pode-se ver gente de todos os lugares da cidade, até figuras expressivas do teatro, cinema e televisão, caminhando de um lado pro outro sem preocupação. Cansei de ver João Roberto Kelly tocando piano por lá.