Friday, May 26, 2006

Grandes ídolos


Charles Robert Darwin (1809-1882), o meu "anjo da guarda"

Michael Shermer
Richard Dawkins









O homem veio do macaco?
A frase o "homem veio do macaco" é uma generalização que induz ao erro. O povão não compreende. Acha que surgimos de um ancestral chimpanzé ou gorila ou coisa parecida.
Num contexto geral, a evolução nos mostra que todos os grupos de organismos viventes e extintos estão aparentados, ou seja, estão relacionados geneticamente, compartilhando ancestrais em comum. Não há evolução individual porque para haver evoluão deve haver transmissão de características hereditárias. Populações, espécies e grupos de espécies é que evoluem.
Estas entidades formam uma única e imensa árvore genealógica. Sabemos disso devido a uma hierarquia de semelhanças (que vão desde aspectos biomoleculares até comportamentais) entre os seres vivos. Há mudança contínua de estruturas correspondentes ao longo do tempo. Sendo um processo contínuo, isto implica em dizer que não há qualquer evidência para a existência de espécies discretas, criadas pontualmente por Deus, tampouco há evidência de uma espécie especial, privilegiada por Ele, criada por Ele conforme a Sua Imagem e Semelhança. Um Deus criador é totalmente dispensável nesse sistema.
Deus em ciência é equivalente a nossa incapacidade de explicar fenômenos naturais por meios racionais. Ele é um conjunto vazio. Existe por evidência negativa e nunca por evidência positiva. Se não sei explicar algo, logo Deus existe e fez tal coisa. É a nossa própria ignorância diante do mundo. O que sabemos explicar faz parte de ciência. Se não sabemos explicar alguma coisa agora, não significa que eu tenho que aceitar a primeira entidade metafísica de plantão e atribuir-lhe a causa do fato. Ciência é um empreendimento materialista. Não tem nada a ver com religião porque simplesmente admite evidência contrária o que permite a reformulação de conceitos para melhor explicar novos e velhos fatos. Em religião assume-se uma suposta verdade e tenta-se defendê-la a todo custo. Independe de evidência contrária. Por mais que se demonstre que o sudário não é da mesma idade de Jesus, para quem crê isto é irrelevante. Significa que o homem está errado e que um dia se curvará diante de evidências comprobatórias. Logo, Religião fornece certezas; ciência fornece dúvidas. As dúvidas alimentam a ciência. Mas o homem comum prefere acreditar em explicações simples e fantasiosas do que pensar com espírito crítico. A humanidade ainda não está pronta caminhar orfã de um Deus ou deuses que ela mesmo criou. O Deus judaico-islâmico-cristão corresponde, com Freud já tinha assinalado, à imagem de um pai protetor e ao mesmo tempo castrador. Quando a morte desse Deus for sacramentada o homem terá adquirido maturidade. Terá mais atitude em relação ao mundo e ao semelhante e deixará de transferir responsabilidades para algo imaginário. Terá uma postura mais humanista, consciência de suas limitações e mais solidariedade com o seu semelhante e com a própria natureza.
Darwin demonstrou que o conceito de Deus não é necessário nas ciências biológicas (como não o é em qualquer ciência). Na biologia, o que se sabe é que as espécies dão origem a outras por mudanças hereditárias no material genético, isolamento e diferenciação ao longo do tempo. Se não fosse assim teríamos que acabar com todos os laboratórios de genética e interromper o Projeto Genoma*rs.
Não há como negar que as diferentes "raças" de cães surgiram em diferentes lugares ao longo do tempo em consequência de cruzamentos seletivos e isolamento. Se compatibilidade reprodutiva não é um critério fiel e demarcador de uma espécie, as diferentes"raças" teriam o "status" de espécies diferentes. As diferenças morfológicas e comportamentais são imensas entre estas "raças". Elas foram produzidas por isolamento e intervenção antrópica. Não há qualquer evidência da ação de qualquer entidade sobrenatural no aparecimento de um buldogue, de um pastor alemão, de um doberman, ou de um pequinês etc.
Homo sapiens está incluído junto com outras espécies (p.ex., Homo neanderthalensis, Homo erectus) no gênero Homo. Assim, se formos pensar num ancestral comum imediato (mais recente e exclusivo) para estas espécies , seria uma espécie que também pertence a este gênero. Sendo assim, se evolução é um processo contínuo, Ramapithecus, Australopithecus etc. são gêneros de hominídeos e, junto com Homo e suas espécies, compartilham um ancestral em comum e que também era uma hominídeo, mas provavelmente de outro gênero. Por outro lado, estes hominídeos e seu ancestral imediato estão geneticamente aparentados com macacos antropomórficos (p.ex., chimpanzé, gorila, gibão) com os quais compartilham um ancestral comum dentro do imenso grupo Primates e cuja maioria dos membros nós chamamos simplesmente de macacos. Primates é somente um grupo de mamíferos placentários. Há outros. Há também mamíferos mais primitivos que depositam ovos com casca que nem os répteis. Há répteis extintos que são mais parecidos com os mamíferos do que com outros grupos de répteis. Isto não é casual. Mamíferos surgiram de um ancestral dentro de Reptilia. Mas, para aparecer um réptil na Terra foi preciso ter aparecido antes um anfíbio. E este de um peixe. E assim vai-se voltando no tempo até chegarmos na primeira forma de vida sobre a Terra.
Concluindo: o homem tem inúmeros ancestrais em comum com os mais diversos grupos de organismos até chegarmos no primeiro ser vivo que apareceu neste planeta.

Ciência e ateísmo
Crer é ter convicção em algo. Alguém pode crer na ciência por acreditar na eficiência do método científico para explicar fenômenos naturais do nosso dia a dia. Ciência baseia-se no quetionamento(vem do ceticismo). Qualquer coisa pode e deve ser questionada em ciência (verdade só existe para o religioso através do dogma). Hipóteses (e teorias, como somatório de hipóteses congruentes) são as ferramentas básicas do cientistas. Elas são idéias (construções mentais)formuladas, com implicações de teste. Já, FATO é uma hipótese na mais alto grau de corroboração (daí falar-se de evolução como fato; nenhum cientista decente nega evolução, não faz sentido isso). O "crer" do cientista é baseado em evidências, corroboração de hipóteses, e acúmulo de hipóteses corroboradas. O "crer" do religioso é baseado na FÉ, não depende de evidências e ainda descarta evidências contrárias. Sendo assim, como Deus não é testável, não faz o menor sentido propor uma teoria de ateísmo (significa ter evidência total de sua inexistência, seja lá Ele o que for; não há nenhuma definição consensual de Deus!).
Bem, acho que o fato de não termos explicações para muitas coisas em dado momento não significa que nós tenhamos que aceitar a primeira idéia metafísica e defendê-la com unhas e dentes. No caso de um cético, basta responder humildemente: não sei.
Deus existe? ninguém sabe o que é ou se realmente existe. Depende da experiência da pessoa com o seu imaginário.
Ocorre é os religiosos buscam sempre evidências favoráveis e nunca contrárias ao seu conceito pessoal de Deus, logo o conceito é imune à crítica e a teste. Não adianta perder tempo falando de heliocentrismo, deriva continental, fósseis, embriologia comparada, especiação, paleolinguística, sistemática molecular, supercordas , Hox genes, zootipo, que são "coisas" da ciência que demonstram a cada dia que o conceito de Deus é cada vez mais dispensável.
Se o Deus dos religiosos existe, Ele deveria ser, pela sua grandiosidade e sabedoria, pelo menos, tolerante com as idéias contrárias de seus oponentes. As pessoas chegariam a Ele pelos bons atos e não pela crença. Isso porque todas as religiões são verdadeiras (já que estão imunes às evidências contrárias). Não há qualquer evidência de superioridade de uma em relação a outra pela TOTAL FALTA DE COMPROVAÇÃO CIENTÍFICA DE QUALQUER SUPOSTO MILAGRE EM QQ UMA DELAS FEITA POR COMUNIDADE ACADÊMICA IDÔNEA. Se houvesse real comprovação e divulgação pelos "quatro" cantos da Terra, haveria somente uma única religião (ninguém seria bobo em acreditar nas outras religiões, já que seriam mitologias). A maior besteira é dizer que é o mesmo Deus para todos. Uma mentira. Pois ele é moldado segundo tradições do grupo social no qual foi forjado. Quem é mais verdadeiro? Olorum, Odin, Jesus Cristo, Jeová, Baal, Vishnu ou Jupiter? Este tipo de discussão gera circularidade nos argumentos. É estéril.

Teologias e panteísmo

Deixando o ceticismo de lado, e tentando argumentar dentro de um ponto de vista teológico. Se há teísmo, Deus intervem sempre no processo. Mas, sendo assim, Deus não amaria a todos por igual; Ele é seletivo e escolhe uns para sua graça e não outros. Se Ele está em todo lugar, Ele é então omisso e sádico, pois deixa o jogo do errado correr solto para depois punir quem fez o "errado" (contradizer suas regras). Ele criou uma explicação ad hoc horrível e cruel para isso, o livre arbítrio. Não faz sentido também a expressão "Fica com Deus" ou a necessidade de ir numa Igreja falar com Ele.
Se Ele é perfeito e infinito não faz sentido mandar um filho para mudar algo aqui na Terra (isso implica em dizer que Ele vacila).
Se há deísmo. Ele deu o ponta pé incial do jogo e se isolou, contemplando a Criação. Então temos que admitir que seleção natural é um mecanismo cruel e legítimo para Deus atingir também seus objetivos. Se há reencarnação, Ele é cruel e sádico,pois temos que voltar aqui na Terra para saldarmos dívidas de vidas passadas. Ninguém recebe uma cartilha do certo ou errado. Como é particular ao homem pecar e a cada volta contraímos novos pecados, o processo leva a uma regressão infinita. Nunca saldaremos a dívida. Pecado e virtude variam de acordo com a época e contexto social.
Só me resta negar um Deus Criador (sem qualquer respaldo científico) e estabelecer uma equivalência entre Deus e Natureza. Sendo assim, somos parte de Deus, Ele sempre existiu e nada criou porque somos "células" que aparecem e desaparecem para manter o Todo. Isto da mesma forma que toda e qualquer entidade material ou imaterial existente. Isto liberta a crença em Deus Pai (implicaria em ter uma deusa; se não hã uma deusa, Deus não precisa ter sexo; sexo masculino é um conceito complementar ao de sexo feminino). Se todos somos "filhos" não há razão para mandar um filho em especial (para nos redimir do quê? de um pecado original? que Deus pequeno e intolerante este, hein? *rs).

Wednesday, May 03, 2006

Lançamento do livro sobre Paleontologia de Vertebrados
Nesta sexta-feira, 5 de maio, será lançado o livro Paleontologia de vertebrados: Grandes Temas e Contribuições científicas (Gallo, Brito, Silva, Figueiredo, eds.), pela Editora Interciência, Rio de Janeiro. Esta publicação corresponde a uma coletânea de trabalhos apresentados em um Simpósio sobre o assunto realizado na UERJ e dedicado ao paleontólogo Rubens da Silva Santos. Há muitas contribuições adicionais sobre peixes fósseis, que era a especialidade dele. Há também temas de interesse para paleontólogos brasileiros, de uma forma geral, ou ainda curiosos sobre o assunto que queiram se valer de uma fonte bibliográfica mais atualizada. O evento será na Capela Ecumênica da UERJ. O Dr. Sérgio Alex K. de Azevedo, do setor de paleovertebrados do Museu Nacional, apresentará uma palestra sobre os dinossauros no cinema (!). Imperdível.