Friday, January 07, 2011

Sobre "The prog side of the moon: suoni e leggende del rock europeo anni 70", de Cesare Rizzi, 2010. Giunti

Veio parar nas minhas mãos (presente de minha anjinha) este tesouro de informações sobre os melhores anos da história do rock europeu. Bem, se o rock dos anos cinquenta é considerado pertencente à fase infantil da história do rock e o dos anos sessenta, à fase adolescente, aquele dos anos setenta é certamente o da fase adulta, mais madura, culta e ousada. Desde então (anos 80, 90 e atual século), o que sobrou é a fase senil deste estilo musical, com quimeras constantes e isolados espasmos de criatividade . Faço aqui um desabafo. Não se trata de saudosismo, mas de constatação, já que Música transcende o tempo. Se não fosse assim, ninguém ouviria mais Bach ou Mozart, Pixinguinha ou Carlos Gomes, por serem "coisas de velho" rs. Mas, como se deve ressaltar sempre, música boa ou ruim depende da identificação pessoal e do contexto social no qual a pessoa está inserida. Para um culto apreciador Opera, hip hop pode ser algo muito indigesto. mas a recíproca pode ser verdadeira para apreciadores de outros estilos musicais.
Rock progressivo (vendido hoje com o rótulo de Art-rock, Folk Metal, Heavy Melódico, Gothic etc.) é rock sem "roll", ou seja, música para fazer o cérebro dançar e não, o corpo. Está dentro do escopo da música progressiva (jazz, clássico, blues, folk, choro etc.). Por progressivo entenda-se música dentro da música, sem limites de tempo e complexidade. Trata-se de um culto a experiencias sonoras viajantes, algo diametralmente oposto ao que se vê hoje, com o triste processo de castração imposto pela indústria fonográfica globalizada (dominada particularmente pelos EUA). Esta é voltada para a produção de que poderíamos chamar de "fast-food music", na sua maioria, música medíocre e alienante, de fácil assimilação. Sendo assim, estatisticamente vende mais. Investe da ignorância. Trata-se de um retrato do que se vê na sociedade atual, onde prospera a indústria da alienação coletiva (reflexo da baixa qualidade de educação e ensino) como uma tentativa de uniformização de gostos, modas e costumes; uma ditadura oculta que tem massacrado o processo criativo de qualidade.
No caso da indústria da música é mais fácil lançar qualquer coisa do tipo "fast-food music", do tipo pagode de quinta categoria, funk carioca (trilha sonora do narcotráfico no Rio de Janeiro), sertanejo pop (ou neo-brega), hip hop (música repentista cantada em inglês), "Lady Gaga-music", do que investir em algo refinado e de bom gosto.
Os anos setenta para o rock correspodem ao período de maior revolução na história do jazz, com a introdução dos arranjos complexos e longos solos de sax, trompete, baixo, piano etc, que culminou no que chamamos free jazz, com a intervenção de talentos como John Coltrane, Charles Mingus, Charlie Parker e Miles Davis, entre outros. Em termos gerais foi a jam session adaptada ao rock. Algo equivalente ao impacto do modernismo arquitetônico de Gaudi, na Espanha e que até hoje não foi superado.
Então, do final dos anos sessenta até a metade dos anos setenta o que se viu foi um culto ao virtuosismo, à criatividade inteligente, um verdadeiro onanismo sonoro. Cada um podia fazer a sua viagem pessoal através das variações dentro da música, sem se importar com a letra. Foi um rompimento com a banalidade sonora. Adeus à música de 3 acordes, com 3 minutos, sobre convencionais temas amorosos, melosos ou lacrimejantes. Rolavam temas que iam da filosofia de Nietsche à revolução científica de Darwin, de histórias de Jules Verne aos contos de Edgard Allan Poe, da Ficção Científica aos mitos religiosos. Foi um período de fusão do melhor da música negra com o melhor da música branca, tendo linguagem comum, o rock (sem o roll).
Curiosamente, diversos livros têm sido lançados recentemente sobre o assunto, particularmente na Itália. No Brasil, se destaca a bem-sucedida Enciclopédia do Rock Progressivo, de Leonardo Nahuom. Catálogos de gravadoras mitológicas têm sido lançados para os saudosistas do bom e velho vinil. O próprio vinil tem voltado com força total.
O livro de Cesare Rizzi cobre particularmente o rock inglês e o alemão deste período. É rico em ilustrações e informações sobre diversas bandas, de cabo a rabo, de Deep Purple (isto mesmo!) a Third Year Band. Cobre gravadoras inglesas importantes como Vertigo, Harvest, Virgin e Deram. Inclui pequenas resenhas sobre álbuns importantes de cada uma delas. Aborda de forma muito interessante a história de diversas bandas, apontando muita coisa (mas não tudo) que foi liberado em CD.
Algumas ausências, no entanto, são lamentáveis. Entre os ingleses, senti falta, particularmente, do Gryphon. Entre os alemães, Satin Whale, Faithful Breath, Ougenweide e Pell Mell. Há algumas digressões muitos pessoais do autor, que dedica bom texto sobre o Magma (francês), mas omite bandas de outros países de influência marcante no estilo (e.g., Focus, da Holanda). De qualquer forma, o livro vale a pena ser comprado (é barato,¢22,50, 240 p.) e lido. Trata-se de uma das contribuições mais interessantes e importantes para a história do rock clássico dos últimos anos.

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